Histórias Difíceis, Legados Difíceis: como ensinar e falar sobre escravatura e comércio transatlântico de escravos turma B5_2025

Apresentação

RAZÕES JUSTIFICATIVAS/CONTEXTO/ ENQUADRAMENTO (MAX. 750 CARATERES) A complexa história da escravatura e os seus legados no presente continuam ausentes dos programas escolares. O comércio de escravos é introduzido enquanto mera parte de um comércio triangular no qual as pessoas escravizadas eram equiparadas a mercadorias. Apesar da sociedade portuguesa apresentar um problema de racismo estrutural – vide Memo UE Março 2021 [CommDH(2021)4] – os discursos públicos continuam a reproduzir a ideia de que não há racismo em Portugal. Esta formação expõe os professores a metodologias mais inclusivas, equitativas e representativas, para um melhor envolvimento dos alunos. Terá ainda uma componente pública, com a organização de duas conferências proferidas por académicos portugueses e norte-americanos.

Destinatários

Professores dos Grupos de Recrutamento 200, 400 e 420

Releva

Para os efeitos previstos no n.º 1 do artigo 8.º, do Regime Jurídico da Formação Contínua de Professores, a presente ação releva para efeitos de progressão em carreira de Professores dos Grupos de Recrutamento 200, 400 e 420. Mais se certifica que, para os efeitos previstos no artigo 9.º, do Regime Jurídico da Formação Contínua de Professores (dimensão científica e pedagógica), a presente ação releva para efeitos de progressão em carreira de Professores dos Grupos de Recrutamento 200, 400 e 420.

Objetivos

• Compreender a importância e influência do comércio transatlântico de escravos na formação de determinados eventos históricos nacionais e globais. • Compreender os legados da escravatura na sociedade portuguesa. • Compreender o significado de racismo estrutural e suas consequências. • Desenvolver abordagens pedagógicas para abordar o tema promovendo um melhor entendimento da complexidade desta história, e seus impactos em diversos domínios da sociedade (economia, política, cultura, etc.). • Fornecer recursos e fontes para o desenvolvimento futuro de instrumentos pedagógicos para a abordagem deste tema. • Desenvolver instrumentos pedagógicos para abordar o tema de forma inclusiva, representativa, equitativa, e com significado ético e histórico.

Conteúdos

Tendo como base a experiência das formadoras e académicos norte-americanos e portugueses especialistas no ensino da história da escravatura, esta formação expõe os professores a esta história difícil e a um conjunto diverso de fontes a partir das quais poderão desenvolver novas abordagens pedagógicas e instrumentos de aprendizagem para utilizar na sala de aula. 1. O que é património e identidade, como se forjam memórias (e amnésias coletivas). 2. Formação de um dia ministrada pela ESRI em "Story maps" (página digital em que se constroem histórias com base em imagens e mapas) com o objetivo de municiar os formandos com um instrumento pedagógico passível de ser desenvolvido na sala de aula e em conjunto com os alunos. 3. Como (não) se fala de escravatura e de tráfico de escravos em Portugal. Mitos da historiografia pública portuguesa: omissões, erros, distorções, continuidades coloniais. Razões para a reprodução e persistência destes mitos na memória coletiva e discurso identitário português. Importância de um plano curricular inclusivo: o que falta fazer. 4. O ensino da história e materiais escolares: perspetiva crítica (académicos portugueses convidados). Os dois oradores apresentarão, em cada semana, a sua perspetiva sobre este tema e partilharão as suas experiências relativamente a métodos e abordagens pedagógicas. 5. Como contar uma história difícil na sala de aula: metodologias e uso da linguagem. Humanização da história através da utilização de micro-histórias de resistência e liberdade (insubmissão, revoltas, sabotagens, reapropriação simbólica, reconstrução de cosmologias). Exemplos de micro-histórias presentes em fontes primárias e secundárias, e desenvolvidos através da pesquisa realizada pelo Slave Wrecks Project em Portugal, Moçambique, África do Sul, Brasil e EUA. Materialização da história em objetos e espaços tangíveis: as rotas da presença africana na cidade de Lisboa (pelo Museu de Lisboa). 6. Ensino da história da escravatura e do tráfico de escravos nos EUA: perspetiva comparativa (académicas norte-americanas convidadas). As duas oradoras apresentarão, em cada semana, aspetos da sua experiência profissional no ensino da história da escravatura nos EUA, e partilharão algumas das metodologias usadas no seu trabalho pedagógico e de pesquisa. 7. Coleções difíceis e descolonização museológica: a sala de aula no Museu Gulbenkian, no Centro de Arte Moderna. No Museu Nacional de História Natural e Ciência da Universidade de Lisboa, onde os formandos contactam com algumas coleções coloniais, e abordam as questões éticas inerentes à curadoria destas peças (incluindo a decisão de mostrar ou não mostrar ao público). 8. Exercícios de grupo: criação de instrumentos pedagógicos para serem utilizados na sala de aula a partir de guiões. Discussão de estratégias e métodos de abordagem e de criação. 9. Realização de visita de estudo (opcional) aos espaços de presença africana em Lisboa, orientada pelo Museu de Lisboa.

Metodologias

Exposição dos conteúdos de forma teórica e prática, com recurso a textos de apoio e materiais audiovisuais. Workshops de leitura promovendo o diálogo participativo, a reflexão e análise crítica dos materiais de leitura, incluindo fontes primárias e secundárias. Apresentação de casos de estudo com base no trabalho de investigação desenvolvido pelo Slave Wrecks Project e seus parceiros internacionais, bem como pelas equipas educativas do Museu Gulbenkian, do Centro de Arte Moderna e de curadoria do MUHNAC e do Museu de Lisboa. Debate e discussão conjunta dos materiais e conteúdos apresentados. Experimentação de métodos e abordagens: estratégias de humanização e materialização, e criação colaborativa de instrumentos pedagógicos concretos para usar na sala de aula.

Avaliação

Os formandos devem frequentar, pelo menos, 2/3 do número de horas da ação. A classificação dos formandos será feita por níveis de desempenho na escala de 1 a 10, com a menção qualitativa de: 1 a 4,9 valores – Insuficiente; 5 a 6,4 valores – Regular; 6,5 a 7,9 valores – Bom; 8 a 8,9 valores – Muito Bom; 9 a 10 valores - Excelente. A avaliação dos formandos é contínua, assente na sua participação durante todas as ações da formação. Adicionalmente, os formandos desenvolverão em grupo, um instrumento pedagógico (Storymap, video, podcast ou outro) para ser usado em sala de aula, e construído a partir de um dos guiões fornecidos no início da formação e explorados durante a mesma. Este instrumento será avaliado de acordo com critérios de inclusividade, equidade, representatividade e linguagem utilizada, bem como de acordo com os conceitos e conteúdos analisados durante a formação. Os grupos de formandos terão oportunidade de realizar um encontro por videochamada com um dos formadores após o curso para discutir estratégias de criação do instrumento pedagógico e solicitar orientação.

Bibliografia

Caldeira, Arlindo M. 2017. Escravos em Portugal: Das Origens ao Século XIX. Lisboa: Esfera dos Livros.Caldeira, Arlindo M. 2024. O Apelo da Liberdade: Resistência dos Africanos à Escravidão nas Áreas de Influência Portuguesa. Lisboa: Casa das Letras.Capela, José. 2012. Conde de Ferreira & Cª: Traficantes de Escravos. Porto: Afrontamento.Henriques, Isabel Castro. 2021. Guia Histórico para uma Lisboa Africana: do Século XV ao Século XXI. Lisboa: Edições Colibri.Rediker, Marcus. [2007] 2023. O Navio Negreiro: Uma História Humana. Lisboa: Editora Desassossego.

Observações

Estas formações teórico-práticas de uma semana de duração cada têm como objetivo formar professores, mediadores de museus e outros profissionais da área educativa na abordagem de histórias difíceis, tais como o tráfico transatlântico de escravizados. Focando-se na apresentação de elementos históricos que contextualizam o papel de Portugal no comércio de escravizados, estas formações destacam os importantes legados desse comércio, desconstruindo alguns preconceitos ainda enraizados na memória pública portuguesa. Criada e ministrada pelo Slave Wrecks Project (projeto dedicado à investigação da história da escravatura, tráfico de escravizados e seus legados) em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu Smithsonian de História e Cultura Afro-Americana, estas formações terão a participação de académicos portugueses, brasileiros e norte-americanos cujo trabalho se tem destacado pela investigação deste tópico e respetivas abordagens pedagógicas, de forma inclusiva e equitativa. As formações contarão com workshops dirigidos pela coordenação técnica do curso e académicos convidados, destinados a refletir sobre os atuais programas escolares, e apresentar abordagens alternativas com base em histórias específicas de pessoas escravizadas, lugares, comerciantes, e navios, com a intenção de humanizar e materializar essas histórias. A formação incluirá também uma visita ao ao CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, à Coleção Gulbenkian e ao Museu de História Natural e Ciência da Universidade de Lisboa, o qual colabora nestas formações, com o objetivo de refletir sobre algumas práticas museológicas, e sobre a necessidade de dar visibilidade e de reinterpretar histórias difíceis, dolorosas e complicadas que têm sido relegadas para meras notas de rodapé na memória pública. Cada semana de formação terminará com uma conversa aberta ao público, na qual participarão os académicos convidados.  Os cursos destinam-se especialmente a professores de História do ensino básico – do 5.º ao 9.º anos de escolaridade. No entanto, professores de outras disciplinas e níveis de ensino podem participar, assim como profissionais das áreas pedagógicas de museus. Tem a duração de 1 semana, de segunda a sexta-feira, das 10:00 às 17:30, com intervalo das 13:00 às 14:30. Será lecionado maioritariamente em português (PT), com duas sessões em inglês (EN) com tradução simultânea. O bilhete do curso inclui a entrada no CAM, na exposição Coleção Gulbenkian. Grandes Obras e no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. Os participantes devem assegurar a deslocação e refeições. Esta formação é apoiada pelo Museu Smithsonian de História e Cultura Afro-Americana e pelo Slave Wrecks Project, e tem a colaboração do Museu de História Natural e Ciência da Universidade de Lisboa.

07 -11 jul 2025 | 10:00 – 17:30

Cronograma

Sessão Data Horário Duração Tipo de sessão
1 07-07-2025 (Segunda-feira) 10:00 - 17:00 7:00 Presencial
2 08-07-2025 (Terça-feira) 10:00 - 17:00 7:00 Presencial
3 09-07-2025 (Quarta-feira) 10:00 - 17:00 7:00 Presencial
4 10-07-2025 (Quinta-feira) 10:00 - 17:00 7:00 Presencial
5 11-07-2025 (Sexta-feira) 10:00 - 17:00 7:00 Presencial
Início: 07-07-2025
Fim: 11-07-2025
Acreditação: .CCPFC/ACC-127029/24
Modalidade: Curso
Pessoal: Docente
Regime: Presencial
Duração: 30 h
Local: Auditório3-Fundação Calouste Gulbenkian